terça-feira, 17 de maio de 2011

O IDEAL E O REAL NA FORMAÇÃO DO ADMINISTRADOR

O presente artigo apresenta o resultado de uma pesquisa realizada em IES particulares que ministram o curso de administração, tendo como finalidade conhecer melhor os aspectos do processo de formação do administrador, identificando elementos do contexto social, especialmente do mercado, e da legislação educacional, que delineiam o perfil de profissional egresso desse curso, verificando a correspondência entre esse perfil desejado e as práticas curriculares e pedagógicas desenvolvidas nessas instituições.
O ensino da administração por muito tempo proporcionou a formação de profissionais prontos e acabados para o atendimento das demandas de mão de obra qualificada, que pudesse fazer frente ao desenvolvimento industrial do país. Ao longo dos anos, o modelo de ensino tecnicista, estritamente voltado para a formação de profissionais, com profundo conhecimento técnico, prevaleceu nos projetos pedagógicos das instituições formadoras, garantindo assim, a ocupação, pelos profissionais recém formados, dos postos de trabalho então oferecidos. O fenômeno da globalização, a reestruturação produtiva, a reordenação econômica mundial e as mudanças em torno das concepções de trabalho e emprego, entretanto, passaram a exigir das instituições de ensino superior, constante readequação de seus projetos pedagógicos, visando formar profissionais para as novas demandas e necessidades requeridas pela sociedade e pelo mercado de trabalho, implicando em novas competências e habilidades. Os novos modelos de formação baseados em habilidades e competências deixam de lado a capacitação centrada na superespecialização, e passam a privilegiar a formação generalista, de múltiplas habilidades e constante adaptabilidade às mudanças.
Em se tratando de ensino superior, há que se considerar que uma formação meramente tecnicista, de certa forma, aniquila os ideais acadêmicos de produção do conhecimento e reduz a graduação à condição de terceira etapa da educação básica. Por outro lado, não há como fugir da nova realidade, caracterizada por mudanças permanentes, a exigir dos profissionais constante aperfeiçoamento e desenvolvimento. Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais abandonam a idéia de adoção de um currículo mínimo para a formação do administrador, que até então proporcionava a formação para um trabalho especializado, dá flexibilidade às instituições de ensino superior para elaboração de seus projetos pedagógicos, visando viabilizar a implantação de novos cursos que privilegiem a formação baseada em competências intelectuais e múltiplos perfis profissionais, para o atendimento das demandas sociais e a dinamicidade do mundo do trabalho. As novas orientações curriculares, no entanto, encontraram boa parte das instituições de ensino de administração em condições organizacionais e pedagógicas insuficientes para atender às propostas de inovação oferecidas. As instituições investigadas, de maneira geral, têm procurado adaptar seus projetos pedagógicos, à orientação geral e à flexibilidade curricular prevista nas Diretrizes Curriculares Nacionais, principalmente no que se refere à organização dos cursos. Entretanto, os planos de ensino destas instituições ainda privilegiam o estabelecimento de objetivos quantificáveis, valorizando a formação conteudista e mecanicista. Numa apreensão de conjunto, observou-se que a adequação dos cursos às Diretrizes é um procedimento meramente formal, não tendo ocorrido mudanças de fundo nos currículos e nas metodologias, sem, alterar, portanto, o perfil formativo antigo. Com efeito, as práticas pedagógicas ainda são em sua maioria baseadas em modelos tradicionais de ensino, com aulas expositivas, cujos conteúdos, na maioria das vezes são repassados aos alunos, pelos professores, de maneira positivista, abrindo-se pouco espaço para discussões e reflexões. Há que se considerar que esforços isolados existem e são colocados em prática com o intuito de mudar a aula, tornando-a mais participativa, interessante e motivadora. No entanto, pode ser considerado como exceções à regra e, em linhas gerais, não são vistos como práticas inovadoras. A pesquisa indicou que a formação do administrador nas instituições investigadas ainda não atende os ideais previstos nas diretrizes curriculares, em face de fatores relacionados à metodologia de ensino e comprometimento com o processo de aprendizagem por parte dos acadêmicos.
 Repensar ações organizacionais e pedagógicas parece ser um grande desafio para as instituições objeto da pesquisa e, provavelmente, um bom número de instituições do país. Professores e alunos devem estreitar seu relacionamento no sentido de conduzir o processo de ensino e aprendizagem em uma via de mão dupla, privilegiando a troca de informações e o desenvolvimento do pensar crítico e reflexivo em torno dos conteúdos que são abordados no contexto da sala de aula. Os métodos tradicionais de ensino, com aulas expositivas, embora bastante eficazes em termos de transmissão de conteúdo se o professor for bem preparado, deixam pouco espaço ao estudo ativo e à produção do conhecimento pelo aluno. É necessária a introdução de métodos mais inovadores, baseados em atividades de ensino que levem ao desenvolvimento do pensamento teórico e à participação dos alunos, integrando-os num processo em que os alunos sejam parceiros na busca do conhecimento. Professores e alunos precisam desenvolver um trabalho de equipe, onde o professor seja o mediador do conhecimento para auxiliar o aluno a estabelecer uma relação cognitiva ativa com esse conhecimento, que é o próprio processo de aprendizagem. Nessa perspectiva, torna-se possível articular os esforços de alunos e professores no sentido de auxiliar a instituição na revisão de seus projetos pedagógicos e adequá-los aos perfis preconizados. Em meio a essas considerações, cumpre ressaltar a importância da pesquisa, enquanto componente inseparável da administração.
Texto de Orlando Rodrigues - Site Administradores.

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